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  • Foto do escritorHemily Savi

A MODA NO CASTELO: Uma entrevista com Carlos Gardin



Você sabe o que o Ensaio Sobre a Cegueira o filme e Castelo Rá-Tim-Bum, tem em comum? O incrível Carlos Alberto Gardin, o qual tive o prazer de entrevistar. Preciso confessar que me senti honrada, pois o trabalho de Carlos fez parte de toda a minha infância. Não há como pensarmos no Castelo e seus personagens sem projetarmos em nossas mentes os figurinos coloridos, detalhados, criativos e que acentuavam ainda mais a magia no entorno do programa.

Para quem não acompanhou, há algum tempo os atores do Castelo e o figurinista se reuniram virtualmente para passar uma mensagem super importante com orientações para este momento de pandemia. Além disso Carlos redesenhou seus icônicos figurinos, porém com um item indispensável atualmente, as máscaras.




Confira a seguir um pouco mais sobre o trabalho e a história do figurinista começando por sua origem no interior de Botucatu:


-Para começo de conversa, pode nos contar um pouquinho sobre como foi sua infância?


Minha infância foi muito gostosa no interior de São Paulo, minha família me proporcionou sempre estar em boas escolas, estudei piano, línguas, pintura, fiz esportes como natação e judô e depois aos treze anos comecei a estudar Ballet, meu avô era alfaiate e minha tia modista e isto me aproximou da moda e meus amigos me aproximaram das artes e do teatro.


-Você tem formação artística no "Ballet Stagium" como foi esse salto do Ballet, para a criação de figurinos?


Quando optei por estudar Ballet exclusivamente, me interessei pelo universo da dança, cenografia, figurinos, música, história e técnicas. Com o passar dos anos 80 ministrei um curso de preparação corporal para atores, fui convidado por estes atores para coreografar vários espetáculos teatrais e me ofereci a realizar os figurinos e cenografia destes espetáculos, consequentemente comecei a ganhar prêmios em festivais de teatro e em 84 ganhei o prêmio Mambembe do Ministério da Cultura como melhor figurinista de teatro infantil, isto me deu currículo e notoriedade para ingressar nesta área.


-Após tantos trabalhos incríveis fora da TV, você passou a trabalhar em uma emissora. Em que momento entrou na TV Cultura e por quê?


Depois de 1985 criei um espetáculo sobre Clarice Lispector, era dança teatro e para isto agreguei artistas que participaram deste trabalho até 88 quando finalizamos a turnê de apresentações. Como eu já tinha feito muitos trabalhos como figurinista mas não tinha especificamente esta formação, fui fazer um curso na USP com um figurinista famoso que se chamava Campello Neto, que tinha sido figurinista da teve Cultura, pediram a ele uma indicação de um figurinista para assumir um novo projeto na Cultura e este projeto era o Rá-tim-bum, fiz uma entrevista com o Fernando Meirelles diretor do projeto e fui admitido.

-Você sentiu muita diferença entre trabalhar na TV Cultura, Disney ou na produção da Netflix Sense8?

Na Cultura aprendi a fazer televisão, os diretores me convidaram a começar na publicidade pois o Fernando era dono da Olhar Eletrônico e posteriormente da O2 filmes, o Cao Hamburger me convidou pra Disney, o Fernando para o ensaio sobre a cegueira e a O2 filmes pro Sense8. Como eu já tinha um histórico de trabalhos com eles isto me dava um certo conforto nas produções nacionais, mas as produções internacionais eram grandes demais e por este motivo eu não era o único figurinista destas obras e estas liberdades eram mais divididas entre a equipe.


-Como você mesmo disse, também foi figurinista no filme “O Ensaio Sobre a Cegueira” baseado na obra de José Saramago, como foi? Você já conhecia a obra? Leu antes para criar o figurino? Eu não tinha lido o ensaio sobre a cegueira, quando cogitaram meu nome para ser o Wardrobe Master da obra, comprei o livro e li, viajei na obra, e logo em seguida comecei a fazer as leituras do roteiro com a equipe, o filme começaria a ser filmado no Brasil, mas por um problema de agenda dos atores adiaram o início das gravações e optaram começar no Canadá, lá fizeram as cenas dentro de um manicômio abandonado, desta parte eu não participei, quem assumiu foi uma figurinista Canadense chamada Renee April, depois filmamos no Brasil, Uruguai e Brasil de novo. A experiência foi muito proveitosa principalmente por vivenciar pela primeira vez uma obra com este padrão internacional de produção.


-Falando sobre os figurinos para do Castelo Rá-Tim-Bum, devo dizer que eles contribuem para toda a mágica em torno do programa. Como funcionou a pesquisa e o processo de criação?

O Castelo foi um projeto que foi posterior a minha fase de funcionário da teve Cultura, fui chamado pelo Cao Hamburger para implantar o projeto em seis meses de trabalho. Com o Cao eu tinha feito Perigo,perigo, que eu vesti bonecos de massinha de modelar e Lucas e Juquinha sobre acidentes domésticos de criança que ganhou o Óscar da televisão. Eu cheguei chegando, recebi a sinopse dos personagens e saí pesquisando, logo eu tinha uma extensa pesquisa realizada em apenas uma semana enquanto rolava a burocracia de minha contratação.



-No que você se inspirou? Quanto tempo demorou para criar?


Me inspirei no presente, passado e futuro. História, moda fashion e futurismo de ficção científica, foi tudo muito rápido e isto direcionou os cenógrafos e diretores de arte.


-Quantas replicas eram feitas de cada roupa?


Dependendo dos personagens foram feitas as replicas dos figurinos, com a possibilidade de entrarem no cenário eletrônico chamado chroma key, tinham roupas que excluíam os azuis ou os verdes que eram as cores de recorte.


-Qual era o personagem mais trabalhoso no momento da caracterização?


Todos os personagens eram montados com postiços de perucas e ou barbas e bigodes, maquiagens elaboradas e figurinos complicados, todos demoravam relativamente o mesmo tempo.


-Um dos meus personagens favoritos definitivamente é o Etevaldo, como foi a criação do figurino dele?


O Etevaldo eu criei em um workshop em casa, com meu enteado que tinha sete anos na época e dele tirei umas idéias para a caracterização.


-Sempre fui louca para ter o vestido da Biba, a roupa colorida do Nino, a camisa do Pedro, a jardineira do Zequinha, e imagino que várias crianças e adolescentes por ai também. O que você acha deste impacto que os personagens geraram nas crianças?


Fizemos os projetos, realizamos os figurinos, gravamos tudo é só depois de tudo editado foi para o ar. Não tínhamos a noção do todo, para nós os criativos foi um impacto, mas o público foi crescendo com as reprises pois a audiência foi aumentando e acredito que tivemos a noção real do quanto foi o impacto quanto fizeram a exposição no MIS, com um imenso número de fãs já adultos nas filas.


Confira a exposição em 360°: http://www.fotosintese360.com.br/tour/ratimbum


-Algum dos personagem era seu favorito? Por quê?


Eu amo a Morgana! Gastei uma fortuna nos figurinos dela, mas o Etevaldo arrasa, a Caipora... o Nino..., sei lá, adoro todos, foi uma oportunidade única estar neste projeto.


-Quando vi as fotos dos figurinos com máscara, foi como um misto de sensações, porque é como se eu voltasse ao passado, mas vendo a dura realidade que nos encontramos agora. Como foi para você depois de tanto tempo recriar esses figurinos tão icônicos? Principalmente nesse momento de pandemia.


Resolvi redesenhar os personagens pois no começo da pandemia houve uma certa relutância das pessoas entenderem sobre o uso das máscaras, lavar as mãos e do distanciamento, achei que usando estes personagens eu poderia colaborar com alguma coisa, houve uma adesão dos atores e criadores do projeto e assim fizemos um vídeo cada um em sua casa e a Ângela Dippe foi quem agregou todos e editou os vídeos.


E assim finalizei a entrevista, ainda nervosa e com o coração quentinho. Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu de conhecer mais sobre o figurinista responsável por grande parte da magia que víamos no Castelo pelas telinhas.



 

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